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Vigotsky, aopensar abrincadeirade faz-de-conta como “a zonadedesenvolvimentoproximal”e importante for-
madoradodesenvolvimento infantil dialoga intimamente comas possíveis intervenções quea crechepodepro-
porcionar às crianças. Éatravés dobrincar quea criança começaa interagir com regras ea internalizar omundo
real atravésde suapercepçãoede seus significados.
Abrincadeirade faz de contaéo lócus emque a imaginaçãona infância semanifestae sedesenvolve, possibili-
tandoà criança tornar-seaquiloquenãoéepermitindo-lheultrapassar os limites postos pela realidade. Umes-
paçode construçãode sentidosede significadosno campodaproduçãodos saberes. Esses saberes sãoproduzi-
dos porqueabrincadeira impulsionaa criançaa conhecer eadominar osobjetos eas representaçõeshumanas,
uma vezqueas situaçõesdebrincadeirasdas crianças são construídas apartir do contexto social quea circunda
(SANTOS, SCHAPPER, ZANETTI, 2012, p. 65)
Nossas intervenções pedagógicas nas creches, logo podem ser calcadas nessa ideia da psicogênese de um ser
completo, queépreciso ser respeitadoevistonomomentopresenteenãoprojetado sempreparaum futurodo
qual nãopodemos sequerprever seuacontecimento. Issoquerdizerqueo sujeito, aindaqueum sujeitocriança,
nãoestá imersoenãoépassivo. Ele trocaexperiências eabsorve informaçõesde sua culturaeé capazde trans-
formar seumeio. Nesse sentido, seudesenvolvimento tem intensa contribuiçãodooutro, e vice versa. Por isso
o ambientedeve ser fértil, possibilitando trocas epromovendoum trabalhode cooperaçãoe colaboraçãoentre
educadores e crianças.
Aperspectivawallonianadiriaquea imitaçãoenão somenteo condicionamento faz comqueas crianças apren-
dam. Estas imitações, que inicialmentenão tem intencionalidade, são tentativas simultâneas de ações que gan-
harão expressões emocionaismais tarde, agora sim, com intencionalidade. De todomodo, esta participaçãono
mundo social é uma tentativa de participação na vida do outro, a primeira forma de imitação é também a pri-
meira formapossível departicipação interativanavida social, oque tambémpodeconfigurar-secomoaprimeira
formadediferenciaçãodoeu–diferentedomundo (VASCONCELLOS, 1996).
Ao pensarmos na cena descrita, percebemos como as ações são produzidas/reproduzidas e de como o outro
tem um papel fundante na constituição do eu. Em algunsmomentos do dia o penico se tornava somentemais
umobjetoda sala,mas sealguma criançaquisesseusá-lonomesmomomentoele se tornavaoprotagonistada
sala, ou seja, openico viravaobjetode interessede todos oudamaioria. Nessas horas as crianças entravamem
conflitoemuitasvezes chegavamaumconsenso sozinhas semnenhuma intervençãodiretadaprofessora, oque
nos da subsídios para pensar em como os conflitos e tensões são elementos que fazem parte do processo do
desenvolvimento infantil. Os conflitos e tensões servemparaestreitar relações, fortalecê-las ou criar umdistan-
ciamentoe isso tudo sedáemmomentos comoeste citadonoexcertodanotade campoemquea criança tem
apossibilidadedeescolher oquequer fazer, que temapossibilidadede trocar comooutro, de ceder ounão, de
observar e ser observado, de criar e recriar possibilidades.
“(...) É a contradição entre a necessidade vital de “enraizamento” da criança nomundo humano que tem sua
ordem historicamente dada e, nãomenos importante, o ímpeto pela liberdade que ela pode adquirir apenas
nessemesmomundo. A criança não é capaz de ter a consciência ede reconhecer tal necessidade (pelomenos,
no plano racional) para receber em troca a tão desejada liberdade. E aqui, em seu auxílio vem a brincadeira...”
(Kudriavtsev,2007, p.3-4)
As observações na creche trouxeramanecessidadedepensar odesenvolvimentoda criançaeasmanifestações
do seu comportamento em situação coletiva. SeWallon revela que o desenvolvimento infantil é um processo
pontuadopor conflitos, é importantequepensemosemmaneirasdeconsideraresseelementonoatodecuidar/
educaracriançanacreche.Oprocessodesocializaçãoédecrescente individualização.Comoconjugaroprocesso
de individualizaçãoemumambiente coletivo
Percursos em construção
Apartir das observações edo aporte teórico refletimos sobre a importânciada criançaestar inseridanoespaço
dacrecheparaqueelapossavivere trocar comoutros.Acriançavivemomentos significativoseessenciaisparaa
sua formação/constituiçãoeassimpodecompartilharcomosoutrossujeitosdacrechesuasdiferentes formasde
ver e sentir omundo. As crianças constitueme são constituídas pelos outros epelomeioenãopodemos deixar
de citar a importância da formação continuada para os profissionais de creche, pois eles precisam de respaldo
teórico-prático que os subsidiem no contato com as crianças pequenas. Acreditamos que seja importante para
a formação dos profissionais de creche refletirem sobre suas práticas e perceberem as crianças como sujeitos
singulares capazesdeproduzir e reproduzir culturas.
