Desafíos críticos para Latinoamérica y el Caribe

233 CONCLUSÃO A co-constituição entre agência e estrutura possui grande relação com o tema abordado, seja através da interação entre indivíduo e a ideologia nacional dominante, seja pelo ativismo transnacional sob a soberania estatal. Ambos os exemplos serão abordados e analisados à luz da construção social advinda de uma interação e compartilhamento de ideias, tanto no Sistema Internacional quanto em nível na- cional. Segundo a Teoria da Estruturação de Giddens, há uma dualidade presente da correlação entre agência e estrutura. Desta forma, uma possui interação recíproca para com a outra. Há, portanto, uma inter- ferência da estrutura no agente e, por meio da consciência discursiva, o agente também pode condi- cionar e alterar a estrutura (Giddens, 1984). A estrutura conservadora brasileira sempre existiu, sendo constituída pelo decorrer da história nacional e dos preceitos eurocêntricos enraizados na sociedade. Ela frequentemente esteve presente na política nacional, tendo sua posição perdido certa relevância após o fim da ditadura militar, quando o neoliberalismo e a expansão do capitalismo de mercado en- traram em cena na América Latina. Porém, com a crise econômica mundial de 2008, os movimentos e ideais conservadores voltaram a ter relevância e poder de fala, a fim de retornar às estruturas antigas, consideradas “melhores”. Jair Bolso- naro, caracterizado enquanto um agente, chega ao poder no Brasil no ano de 2019, utilizando-se de argumentos conservadores e retrógrados para poder atingir a população brasileira e alterar a estrutura da política nacional. Através da consciência discursiva, por meio da linguagem (Giddens, 1984), ele ex- pôs com sucesso suas ideias e pensamentos conservadores. Desta forma, conseguiu modificar a recente estrutura nacional brasileira, antes considerada multilate- ral, para uma extrema-direita ultraconservadora de viés nacionalista. A co-constituição também pode ser observada nas visões apresentadas a respeito das queimadas na Amazônia e suas respectivas ideologias e interesses, sendo clara a construção de uma identidade ad- vinda da interação e compartilhamento de ideias entre os atores envolvidos (Wendt, 1999). O Estado brasileiro, as forças armadas, o agronegócio, ONGs e outros Estados são exemplos de atores envolvidos na questão ambiental abordada, elevando a complexidade da análise a um processo de compreensão das interações entre os atores para além de unicamente explicar os fatos ocorridos. Como dito anteriormente, com a eleição do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, a estrutura nacional vem tomando proporções ultraconservadoras, propagando explicitamente uma ideologia nacionalista e protecionista, que visa manutenir a soberania dentro dos limites territoriais previstos no sistema vestfa- liano de Estados. Porém, em contrapartida, o descaso e negligência de tal perspectiva para com a pauta ambiental tem causado revolta por parte da agência, aqui representada enquanto o ativismo transna- cional pela Amazônia e os indivíduos a ela pertencentes. Através da interação e compartilhamento de ideias entre estrutura social conservadora e agência ambientalista, surge a co-constituição entre ambas, na qual tanto ações do governo Bolsonaro influenciam na conduta do “ativismo além-fronteiras”, quan- to a indignação transnacionalista afeta diretamente os discursos de securitização do Estado brasileiro. Portanto, pode-se concluir que ambas as vertentes, internacionalista e militar, são concebidas por tomadores de decisões moldados por interesses e valores. Com isso, por se tratar da interação e com- partilhamento de ideias entre indivíduos, há o choque de ideologias e a utilização da linguagem como meio de influência mútua, ou seja, ambos interferem nas decisões uns dos outros. Desta forma, por se tratar das condutas humanas, não é possível mensurar e prever a culpabilidade e grau de interesses entre os atores envolvidos de maneira empírica, sendo possível apenas compreender os fatos que têm levado a tal acontecimento.