Desafíos críticos para Latinoamérica y el Caribe

232 nizadores acabaram por impor suas culturas e tradições aos colonizados. Este fato causou uma noção de superioridade cultural eurocêntrica sobre as tradições indígenas que perdura até os dias de hoje, evidenciando o racismo estrutural enraizado na sociedade brasileira. As falas do então deputado federal em 2017 e hoje presidente da República Jair Bolsonaro durante uma palestra reiteram o ainda evidente preconceito e negligência para com etnias nativas: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem pra procriador ele serve mais” (Bolsonaro, 2017 como citado em Dolzan, 2017). Estes são exemplos de um discurso de ódio disseminado pelos processos autoritários do etnocentrismo cultural europeu institucionalizado no continente americano. Por consequência, este descaso levou a uma ascensão do movimento multiculturalista indígena em nível nacional, sendo que tanto nativos quanto ativistas lutam pelo direito da preservação, do respeito e do exercício das tradições indígenas (Gonçalves & Silva, 1998). Outro fator relacionado à questão indígena durante o governo Bolsonaro diz respeito à dimensão de segurança comunitária, um dos pontos definidos enquanto parte da Segurança Humana pelo Progra- ma das Nações Unidas para o Desenvolvimento. “As pessoas necessitam ter segurança de manifestar a sua identidade cultural e conjunto de valores em conjunto com a sua família, comunidade, organi- zação, grupo étnico (PNUD, 1994 como citado em Oliveira, 2009, p. 72). O desrespeito às suas culturas e práticas religiosas, o preconceito propagado pelo próprio presidente e o descaso em relação às de- marcações de terra destinadas ao povo nativo (Correa; Lobao; Kaiser, 2019) são alguns dos fatores que indicam uma falha na segurança comunitária na Amazônia. E os focos de incêndio, muitas das vezes em reservas “que se destinam à posse permanente dos povos indígenas” (Funai, 2019), só tendem a agravar a crise de Segurança Humana. 4.4 A SEGURANÇA HUMANA DEPENDE DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL A partir dos dados abordados a respeito das queimadas e do desastre ambiental na Amazônia, aliado à vertente internacionalista da pauta e seu respectivo ativismo transnacional, pode-se constatar um des- respeito a, no mínimo, uma das dimensões de Segurança Humana previstas no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: a segurança ambiental. Segundo o órgão, uma crise relacionada a esta pauta é definida pelo “desmatamento, a poluição do ar e da água, enfim, os processos de degradação de ecossistemas” (PNUD, 1994 como citado em Oliveira, 2009, p. 72). É importante ressaltar que, por mais que haja falha no cumprimento de apenas uma das pautas de Segurança Humana previstas pelo PNUD, uma de suas características mais relevantes é a interdependência, sendo que uma crise em um setor provavelmente afetará todos os demais. “[...] As ameaças são transnacionais, não há fronteiras nacionais para problemas como desequilíbrios ecológicos, [...]. E já que as ameaças não se circunscrevem às fronteiras nacionais, a solução dos proble- mas também não pode ficar restrita ao plano estatal” (Oliveira, 2009, p. 72). Assim, os Estados devem agir de modo cooperativo tanto com outros Estados quanto com ONGs e organizações internacionais, assim fortalecendo as instituições globais através de suas normas de conduta (Bajpai, 2003 como citado em Oliveira, 2009).

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