Desafíos críticos para Latinoamérica y el Caribe
231 podem ser constatados desde a década de 70 com o início da “era ‘moderna’ do desmatamento” (Fear- nside, 2005, p. 1). Posteriormente, os índices de desmatamento e atividades de manejo florestal ilegal aumentaram significativamente a partir da década de 90, com a expansão da globalização capitalista e do neoliberalismo na América Latina. Aliado a este fato, a massiva prática de agronegócio impera na região desde então, primordialmente a agropecuária, que tem como base a produção extensiva e de baixa produtividade, demandando, por consequência, milhares de hectares de terra desmatada a cada ano unicamente para este fim. Como resultado da intensificação do capitalismo de mercado na região, além da degradação ambiental, surgiu uma concentração de terra e de renda por parte dos fazendeiros pecuaristas, além de um exponente crescimento do chamado êxodo rural (Mesquita, 2009). 4.2 AS QUEIMADAS EM 2019 E A POLÍTICA DE NEGAÇÃO DE JAIR BOLSONARO Durante o ano de 2019, o mundo assistiu em choque e se solidarizou pelos decorrentes dias do que parecia ser um incessante incêndio na Amazônia brasileira, cujas proporções aumentavam diariamente de maneira drástica e aparentemente irreparável. Diversos órgãos de pesquisa, como o Instituto Nacio- nal de Pesquisas Espaciais e a NASA, diagnosticaram uma severa alta nos índices de focos de incêndio florestal na região desde a posse de Jair Bolsonaro enquanto presidente da República, sendo que entre os meses de janeiro e julho de 2019, foram registrados aproximadamente 16000 queimadas, número 35,6% maior em comparação ao ano anterior e o maior desde 2016 (Inpe, 2019 como citado em Vaz- quez; Dey, 2019). Por mais que Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, seja enfático ao alegar que os incêndios na Amazônia sempre foram recorrentes e advém de causas naturais, como o tempo seco, o vento e o calor da região, é notório o fato de a grande maioria dos focos de queimadas serem induzidos pelos próprios seres humanos, no intuito de limpar o solo com o fim de expandir a criação de gado e o agro- negócio, como já fora dito anteriormente. Portanto, é discutível uma parcela justa de culpa à política anti-ambiental e de negação da pauta por parte do governo Bolsonaro, cujo “relaxamento progressivo da proteção ambiental para acomodar a expansão do agronegócio, [...] junto com a desmobilização do aparato para combater o desmatamento, incentivou fazendeiros, agricultores e madeireiros a violar a lei sem temer as consequências” (Vazquez; Dey, 2019, p. 2, tradução nossa). 1 O ceticismo do Estado brasileiro para com o desastre ambiental na Amazônia não tem rendido bons frutos para o governo de Jair Bolsonaro. Em meio à insatisfação por parte dos países membros do G7, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou publicamente seu repúdio e evocou os países da União Europeia a bloquearem o andamento do acordo de livre comércio com o Mercosul, até que o governo brasileiro tome as medidas cabíveis a respeito e aceite sua relevante responsabilidade pelas mudanças climáticas em nível global (Vazquez; Dey, 2019). “Muito dependerá da atitude do Brasil. Donald Tusk, presidente do conselho da UE, disse isso: ‘a UE apoia o acordo, mas o comportamento do Brasil tem uma clara influência nas perspectivas para o consentimento e ratificação do lado da UE’ [...]” (Rinke, 2019, p. 15). 4.3 A QUESTÃO INDÍGENA, A SEGURANÇA COMUNITÁRIA E O MULTICULTURALISMO Além do desastre ecológico advindo das queimadas em território brasileiro, outras pautas são mutua- mente interligadas no que se diz respeito à Amazônia. Dentre elas, a questão indígena merece desta- que, por relacionar conceitos como o multiculturalismo e o eurocentrismo à segurança comunitária. Se- gundo Bastide (1989 como citado em Gonçalves & Silva, 1998), com o “descobrimento” do continente americano no final do século XV, a correlação entre europeus e povos nativos à época pode ser denominada enquanto um choque das civilizações, na qual os colo- 1 “progressive relaxation of environmental protection to accommodate agribusiness expansion, [...] coupled with the demobilization of the apparatus to combat deforestation has incentivized ranchers, farmers and loggers to break the law without fearing the consequen- ces.”
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