Desafíos críticos para Latinoamérica y el Caribe
229 Não só a preocupação com a possibilidade de manipulação dos indígenas feita por estrangeiros que inquietam os militares, mas também a questão da demarcação das terras indígenas. Esse problema, segundo Marques (2007) transcorre desde a década de 1980 e é relativo à presença de diversas terras indígenas nas fronteiras do Brasil, e muitas delas ultrapassam estes limites, emanando o perigo de ser criado um Estado autônomo. Dentro da concepção dos militares, o objetivo maior seria ter um controle das fronteiras para garantir a segurança nacional, uma vez que novas agendas securitárias surgiram, contribuindo para que o narcotráfico representasse uma ameaça à segurança do país. Dessa maneira, as terras indígenas, estando presentes na fronteira, escapam do controle dos militares, e assim, ten- dem a representar uma ameaça à garantia da soberania do país. O presidente Jair Bolsonaro deixou claro em uma entrevista que não demarcaria mais terras indígenas em seu governo, porque, segundo ele, eles têm 14% do território nacional. Imagine Região Sudeste, uma área maior que esta já é terra indígena, não é área suficiente? Ontem [15 de agosto], eu estive de novo com um grupo de indígenas e eles querem liberdade para trabalhar na sua área, não querem viver em confinamento, como seres pré-históricos (Bolsonaro, 2019 como citado em Verdélio, 2019). Aliado à possibilidade de cooptação por parte dos estrangeiros para com os indígenas ao “problema” da demarcação das terras, e, a comprovação de que a Amazônia possui reservas minerais, o maior ban- co genético do planeta, fazem com que a preocupação militar em manter essas riquezas sob o controle brasileiro cresça de maneira exponencial. Discursos como o do presidente da França Emmanuel Macron atingem um ponto crucial no ideário de qualquer força militar, a defesa da soberania de seu país na região, sendo que uma ameaça a este direito do Estado resulta, por consequência, em respostas duras e uma revolta do presidente brasileiro e de seu eleitorado. 3.2 AS QUEIMADAS, O DESMATAMENTO E O DISCURSO DE SECURITIZAÇÃO DE JAIR BOLSONARO Este tópico tem por objetivo relacionar as queimadas na Amazônia em 2019 e o discurso proferido pelo presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas de 2019. Além disso, também de- monstraremos ao leitor as consequências da reação internacional na visão militar acerca das queimadas e do desmatamento na Amazônia. Algumas perguntas surgem, entre elas: como combater os incêndios sem depender de ajudas estrangeiras? Será que as forças militares são capazes de ajudar na diminuição das queimadas na floresta? Conforme dito anteriormente, a Amazônia brasileira é a última fronteira do país, constituindo assim uma riqueza natural, mineral e territorial que traz ao Brasil vantagem estratégica e a possibilidade de um futuro desenvolvimento e crescimento econômico. Além disso, gera interesse de atores estatais e não estatais nos bens e no benefício em que a floresta pode-lhes proporcionar (Marques, 2007). Em virtude deste fator, a construção da Rodovia Transamazônica, em 1970, teve por objetivo integrar a região da Amazônia com as demais, assim enfatizando um dos principais objetivos dos militares para a região – fazê-la crescer economicamente, baseando na sua “colonização” e assim, manutenindo a soberania brasileira. O presidente Jair Bolsonaro ressaltou em discurso que, no Brasil, a região da Amazônia possui uma biodiversidade abundante, uma vez que, segundo ele, “nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente” (Bolsonaro, 2019 como citado em Cerioni, 2019). Durante o mês de agosto de 2019, houve um aumento significativo no número de focos de incêndio na floresta, nos quais contribuíram para esse processo fatores naturais, como o clima seco durante os meses de julho e setembro, além de atos criminosos. Segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, foram registrados mais de trinta mil focos de incêndio na região, constituindo um aumento de mais de 190% em relação ao mesmo período do ano anterior (Exame, 2019). Contudo, ainda no mês de agosto, fora instituída uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que consiste
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