Desafíos críticos para Latinoamérica y el Caribe
228 tenção do autoritarismo militar, também são considerados como um entrave para a democracia brasi- leira (Santos & Tanscheit, 2019). O sistema capitalista, com seu histórico de sucessivas crises econômicas, abre espaço para fenômenos como este na atualidade (Löwy, 2015). Após a crise de 2008 e as ondas conservadoras ocorridas em todo o mundo (McManus, 2019), a política brasileira passa a resgatar as dimensões autoritárias e mili- tares, que estavam fora de foco da população (Santos & Tanscheit, 2019). 3 A SELVA NOS UNE E A AMAZÔNIA BRASILEIRA NOS PERTENCE O título deste tópico representa a síntese do pensamento militar e, de certa forma, demonstra o inte- resse das forças armadas, principalmente do exército brasileiro, em relação à manutenção da soberania da Amazônia brasileira. Aliado a este fator, a expressão “selva!” é utilizada como forma de cumprimento entre os soldados e seus respectivos majores, tendo como exemplo a autorização do presidente Jair Bolsonaro ao comandante militar do Planalto Sérgio da Costa Negraes para que se iniciasse o desfile de 7 de setembro na esplanada dos Ministérios em Brasília-DF (Grillo, Sassine, Maia & Soares, 2019). Esta seção tem por objetivo compreender a visão soberanista do exército brasileiro, mediante a apre- sentação de dados que ressaltam a importância econômica e estratégica da região para o Brasil. Aliado a este fator, pressupõe-se que apesar de todos os discursos emanados em “prol da defesa da Amazô- nia”, estes são imbuídos de valores e interesses das classes ou grupos que os explanam. É importan- te ressaltar que a Floresta Amazônica abrange nove países, sendo eles: Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e França (através da colônia Guiana Francesa). Dentre estes, o Brasil possui 59% da floresta em seu território e tal número é conhecido como Amazônia Legal, abran- gendo ao todo nove unidades federativas e mais de seiscentos municípios, possuindo cerca de cinco milhões de quilômetros quadrados (Peixoto, 2009). 3.1 A IMPORTÂNCIA DA AMAZÔNIA E A QUESTÃO INDÍGENA É inegável que a Amazônia sempre foi alvo de cobiça internacional, uma vez que possui uma vasta biodiversidade, é estratégica no que se refere à concentração de recursos hídricos, além da presença de uma gama diversificada de minerais presentes no solo. Aliado a este fator, pressupõe-se que, para os militares, os países e ONGs internacionais não estão preocupados no bem da floresta, mas sim nos seus bens. As riquezas da floresta, trazendo para uma visão realista, contribuem para o fortalecimento do poder Estatal, podendo colocar o Brasil como um player de relevância internacional. Segundo Marques (2007), o exército brasileiro possui uma ligação muito coesa com as conquistas portuguesas na época imperial, consistindo em uma ideia de que a Amazônia “representa a última fronteira a ser conquistada e incorporada pelo Estado brasileiro” (Marques, 2007, p. 46). Com esta ideia, presume-se que a manutenção da soberania brasileira e concomitante, a defesa da região, só pode ser alcançada mediante a uma ocupação, o que garantiria o desenvolvimento da localidade. Além disso, não se pode esquecer da percepção dos militares para com os indígenas. Dentro da lógi- ca dos militares, o “índio” pode ser facilmente manipulado por estrangeiros, caracterizando um risco para a defesa dos interesses nacionais e na segurança da região (Marques, 2007). A história mostra que diversos grupos presentes na região se aliaram aos ingleses, holandeses e franceses na época colonial com intuito de adentrar e consequentemente explorar a região que pertencia na época à Portugal e à Espanha (Bento, 2017). Trazendo para um contexto atual, dentro do ideário militar, os indígenas, prin- cipalmente seus caciques, podem ser cooptados por instituições ou até mesmo outras nações, uma vez que “alguns desses líderes, como o Cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia” (Bolsonaro, 2019 como citado em Cerioni, 2019).
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