Desafíos críticos para Latinoamérica y el Caribe

145 Como não há pesquisas nestes parâmetros realizadas com o recorte específico de trabalhadores re- fugiados, deduz-se que tais índices entre imigrantes e nativos possa manter um padrão similar entre as pessoas refugiadas e nativas, ainda que seja necessário um investimento maior por parte dos Esta- dos para a acolhida de refugiados - considerando a disponibilidade de mobilidade desta população (estando dispostos a irem onde os empregos são ofertados) e, no caso brasileiro, que se trata de uma população com mais anos de escolaridade e formação. De acordo com uma pesquisa realizada pelo ACNUR (2019) em oito diferentes países latino-ameri- canos, incluindo o Brasil, envolvendo 7.846 entrevistados, os três desejos prioritários da população venezuelana em deslocamento pelos países da América do Sul são acesso ao trabalho, à habitação e regularização para estadia legal. Especificamente sobre o acesso ao trabalho, 66% dos entrevistados disseram estar desempregados ou trabalhando informalmente, ampliando assim a possibilidade de ris- cos de exploração, fator este diretamente relacionado ao tipo de regularização provida pelos Estados em suas respectivas capacidades de respostas. Já em outra pesquisa, produzida pela Organização Internacional para as Migrações (OIM, 2019) so- bre o perfil da população venezuelana residente no Estado de Roraima1, estado brasileiro de fronteira com a Venezuela, o tema do trabalho é o que mais desperta interesse por informação, para 31% dos respondentes, seguido por alimentação (18%) e educação/capacitação (13%). Ao se comparar com os dados dos entrevistados com a situação que tinham na Venezuela meses antes da decisão de partida, fica evidente que a integração laboral da população venezuelana tem se mostrado um tema fragilizado da resposta humanitária nos países de acolhida ao considerar o potencial do perfil das pessoas entre- vistadas: 64% da amostra eram funcionários formais, sendo 35% com registro na carteira de trabalho, 18% eram empreendedores, 11% funcionários públicos, 10% estudantes/pesquisadores e apenas 5% estavam desempregados na Venezuela. Assim, o processo de integração local, deve ser revisitado a fim de melhor propiciar a garantia de direitos e responder de forma adequa ao potencial de inclusão e desenvolvimento integrado das pessoas que foram forçadas a deixar seus locais de origem. A VISÃO ATUAL DO ACNUR SOBRE INTEGRAÇÃO LOCAL A abordagem do ACNUR sobre a perspectiva de como as pessoas em situação de refúgio devem con- quistar suas respectivas autonomias tem se alterado ao longo das décadas. Já no início dos anos 2000, o paper “Reinforcing a community development approach” (ACNUR, 2001b) afirma que os refugiados deveriam ser vistos como sujeitos e não objetos na busca de soluções duradouras que impactam dire- tamente suas próprias vidas e seus destinos. Desta maneira, os prestadores de assistência humanitária (organizações humanitárias) considerariam seus beneficiários (pessoas em busca de proteção interna- cional) dentro de um escopo de conhecedores de seus próprios problemas e das soluções possíveis, ou seja, seriam parceiros efetivos da construção da resposta ao invés de meros receptores de serviços de assistência. Até então, as políticas de ação do ACNUR frequentemente se concentravam na prestação de serviços de agrupamento aos refugiados, sem que houve a possibilidade de contar com a perspectiva e efetivo envolvimento dos próprios refugiados nas propostas colaborativa de como melhor se integrar nas co- munidades de acolhida. Tal abordagem prévia, além de limitar a participação dos refugiados por atuar de forma mais sistemática e padronizada, invariavelmente produz dependência dos mecanismos de apoio. Tais práticas têm se mostrado limitantes na medida em que requerem grandes investimentos e 1 A referente pesquisa foi realizada entre 30 de outubro e 18 de novembro de 2019, envolvendo 1.767 venezuelanos entrevistados com mais de 18 anos, em 14 municípios do estado de Roraima: Boa Vista, Pacaraima, Alto Alegre, Amajarí, Bonfim, Cantá, Cara- caraí, Caroebe, Iracema, Mucajaí, Normandia, Rorainópolis, São Luis do Anauá e São João da Baliza. O tamanho da amostra foi calculado estatisticamente para atingir um nível de confiança de 98,85%, com margem de erro de 2,99%, com base em números oficiais de entrada e saída de venezuelanos.

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