Desafíos críticos para Latinoamérica y el Caribe

144 vimento comum. Como mais da metade da população refugiada do mundo é urbana, as respostas de integração devem buscar conciliar ações de desenvolvimento integrado da sociedade, considerando os custos e impactos imediatos do deslocamento com as projeções futuras de benefícios mútuos a serem agregados aos países de acolhida. Há de se reconhecer que os refugiados são “uma inevitável, se não intencionada, consequência do sistema de Estados, [...] são o resultado do estabelecimento das fronteiras, e da tentativa de atribuir um território para cada indivíduo” (Haddad, 2008, p.29). Entretanto, passouse a entender que ainda que o deslocamento forçado seja uma crise humanitária (como de fato é), tal movimento também pro- duz desenvolvimento - de curto, médio e longo prazos, negativos e positivos - que afeta diretamente o capital humano e social das pessoas que são forçadas a se deslocar e da população dos países de acolhida, impactando o crescimento e a dinâmica da economia, as trocas entre os diferentes setores, o potencial de inovação e o agregado de conhecimentos disponíveis com a chegada de refugiados aos países de acolhida. Um estudo publicado pela consultoria McKinsey&Company em 2020 evidencia que empresas com maior diversidade étnica em equipes executivas - não só em termos de representação absoluta, mas também em variedade ou mistura de etnias - têm 36% a mais de chances de superar seus pares em ter- mos de lucratividade. Entretanto, a mesma pesquisa ressalta que a proporção de empresas no conjunto de dados analisado sem qualquer representação de grupos minoritários (de gênero e raça) em suas diretorias é um indicador revelador da falta de progresso: nos Estados Unidos, esse dado é de 31%; no Reino Unido, 58%; no Brasil, o índice é de 73%. Um argumento cada vez mais presente em discurso de autoridades públicas, considerando o atual ce- nário de nacionalismo exacerbado e consequente restrições fronteiriças, é de que refugiados represen- tam um fardo para os países de acolhida, em especial pela percepção de demandarem investimentos específicos e representarem um baixo retorno econômico imediato, tornando mais deficitária a máqui- na pública - desconsiderando-se as contribuições positivas (reais ou potenciais) que esta população promove a medida em que se tornam mais integradas à sociedade. Considerando o recorte da migração voluntária, Shierholz (2010) rebate com fundamentos a afirmação de que a imigração leva inexoravelmente a salários mais baixos para os trabalhadores nativos. Essa percepção se dá com base na visão da economia como um jogo de soma zero, onde se supõe que os ganhos dos imigrantes exigem uma perda correspondente entre os nativos. Shierholz (2010), entretan- to, demonstra que a imigração tem um impacto pequeno, porém positivo, sobre os salários dos trabal- hadores nativos em geral: embora os novos trabalhadores imigrantes aumentem a oferta de trabalho, eles também consomem bens e serviços, o que cria mais empregos. Dessa forma, a abordagem “você ganha / eu perco” para imigração e salários é excessivamente simplista, pois negligencia a crescente demanda por bens e serviços ocasionada pelo crescimento da força de trabalho. Examinando dados estatísticos de 1994 a 2007, Shierholz (2010) constatou que a imigração realmente aumentou os salários dos trabalhadores nascidos nos Estados Unidos, em relação aos trabalhadores de outras nacionalidades em 0,4%, assim como reduziu os salários dos trabalhadores nascidos no ex- terior (em comparação com os trabalhadores nascidos nos EUA) em 4,6%. Isso significa que os efeitos negativos da nova imigração durante esse período pesquisado foram sentidos em grande parte pelos trabalhadores que são mais substituíveis por novos imigrantes - ou seja, outros imigrantes, vindos em fluxos anteriores. Mesmo os trabalhadores nativos menos qualificados experimentaram um modesto acréscimo de salários devido à imigração nesse período. De acordo com os estudos, esses trabalhado- res aumentaram em 0,3% seus salários em comparação com os trabalhadores estrangeiros, enquanto seus colegas estrangeiros perderam 3,7% em salários.

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